quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Presidente negro à moda da casa.


A pouco foi relançado o livro “Presidente Negro” de Monteiro Lobato, de 1926.
A pouco Barack Obama foi eleito presidente dos Estados Unidos.
Lógico que toda a mídia se atentou ao fato de o livro falar de uma hipotética eleição americana, onde um negro disputa com uma mulher a vaga na Casa Branca.
Bom... Jornais, revistas, programas de TV se impressionaram com a possível “profecia” de Monteiro Lobato - pois algo parecido já havia ocorrido, com sua personagem Emilia, em relação ao petróleo. A boneca de pano insistia na existência do ouro negro no nosso território, muito antes da existência da Petrobras e de suas descobertas, incluindo a mais recente e estrondosa, a da baía de Santos.
Muito bonito profético e tal.
Mas pouco se falou do conteúdo desde livro. Baseado em teorias como da eugenia, onde a hegemonia da raça branca é defendida.
E obviamente racista, considerando homens e mulheres inferiores a supremacia branca.
Nesta época muitos intelectuais se identificavam com estas teorias, uma por serem evidentemente brancos, e acreditarem realmente em sua superioridade em relação aos demais seres. Tanto que este livro se tornou um cartão de visita para Monteiro Lobato. Este tipo de conceito era uma espécie de “moda intelectual” da época. Vide a merda que deu alguns anos depois na Alemanha.
Algo parecido ocorre com o célebre filme de D. W. Griffith de 1912 “O Nascimento de Uma Nação”. Filme revolucionário em termos de linguagem e narrativa. Estórias paralelas, planos detalhes, começo, meio e fim. Tudo isso surgiu com este filme. Em termos estruturais os filmes de hoje mudaram pouco, basicamente Griffith inventou o cinema que nós assistimos até hoje (aliás, está na hora de mudar não é?). O filme tem como enredo a guerra civil americana e a ascensão política dos negros. Os negros são retratados horrorosamente e odiosamente, como bêbados, vagabundos, preguiçosos, arruaceiros, exatamente como poderia dizer “à moda da época”.
Puxa que bom que esta moda passou! Será?
Alguns anos atrás, no horário mais nobre dos domingos na televisão, riamos de um negro bêbado e vagabundo, que na maioria das vezes era humilhado por seus colegas pela sua raça. Era um programa para toda a família, os adultos e principalmente as crianças adoravam. Era um programa da “moda”.
Hoje a moda é outra. Até quando não sei. Mas o que mais me incomoda é saber que nossa aceitação e tolerância dependem do quanto às pessoas que detém a informação, também são tolerantes e aceitadoras de diferenças.


P.S.:
Uma declaração do nosso “sutil” presidente Lula, quando perguntado sobre Obama:
“Se Obama fracassar, a frustração será tão grande, que serão necessários muitos séculos para que um negro seja de novo eleito presidente dos Estados Unidos".
Que bonito Lula, por que você não disse: “Vamos ver o que este negro vai fazer”?
Não podemos esquecer o que mais se falava no nosso país quando Lula foi eleito:
“Vamos ver o que este nordestino, analfabeto e operário vai fazer”.

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