
Moro numa cidade feia, suja e insalubre.
Mas tudo bem, não tenho nenhum rancor por ela ser assim. Sou tão enraizado, nesta cidade, que não consigo me imaginar morando em outro lugar. Gosto, e vivo bem em São Paulo.
Sua beleza é subjetiva. Quem vive aqui, aprende a garimpar as suas bonitezas.
Na semana passada, eu tinha um comercial para rodar numa locação próxima à estação do Brás do metrô. Daí, resolvi ser “verde” e fui a pé. Deixei o carro em casa, ganhei créditos de carbono e segui andando, ouvindo música com mochila nas costas. Me senti como um verdadeiro “homem-moderno-urbano-consciente-do-futuro”.
Porém, o Brás é horrível. Horrível para todos os nossos cinco sentidos. O som, a cor, o cheiro, as pessoas se esbarram. Tudo, tudo é caótico.
Enquanto eu andava pela Rangel Pestana, curiosamente, no meu tocadorzinho de música eu ouvia a versão de "La Vie en Rose" da Grace Jones. Achei divertida a ironia, que de tão paradoxal foi perfeito. Algo delicado e decadente ao mesmo tempo.
Sempre que eu ouço Grace Jones, imagino que suas músicas deveriam fazer parte de um repertório de algum show cafona-performático-transformista, algo meio Almodóvar.
Se você é ou pretende ser um artista transformista, sugiro incluir esta música no seu repertório quando for fazer um showzinho, num inferninho qualquer da cidade.
Se foi bom para o Brás... Pode ser bom para toda cidade.