sexta-feira, 16 de outubro de 2009

PEQUENO CONTO DE NATAL ÀS AVESSAS, FEITO ESPECIALMENTE PARA OUTUBRO, NUM DIA EM QUE SE ACORDA SEM PERSPECTIVAS.



- “Seu frouxo!”
Assim começou o seu dia. Ainda de pijama no sofá, os olhos embaçados, gosto horrível na boca e o cheiro de alguns maços de cigarro nos dedos.
O estrondo da batida na porta foi tão forte quanto à última palavra que ela pronunciou. “... Frouxo!...”
“Mas que diabos ela falou antes?” O “frouxo” não era surpresa. Como estava dormindo só ouviu o final da frase. “Pô, frouxo. Frouxo ela sempre me chama”.
Aí estava um enigma para seu dia, um mistério, uma senha: “Alguma coisa... Seu frouxo!”
Ficou sentado ali mesmo, lembrando da saia dela passando pelo seu nariz enquanto ela gritava. Ela saiu, bateu a porta. Deixou apenas o cheiro de banho e perfume na casa.
Enquanto se distraía tentando tirar as migalhas de “Cheetos” no vão do sofá, o enigma tomava conta de todos os seus pensamentos.
Levantou-se. Andou pela casa. Abriu a janela. Olhou o dia.
– “Caralho, frouxo por quê?”
Sentou na cama que só estava desarrumada de um lado. Cheirou o travesseiro, passou a mão nas dobras do lençol, olhou para o terço na cabeceira e veio em sua mente uma pequena luz.
“Ela não me chama de frouxo. Isso! Ela me chama de ‘mole’!”
“Você é mole mesmo!” Lembrou da voz arrastada e carregada de desprezo pelo “mole”.
Enquanto tirava seu pijama pensou: – “Taí... Frouxo é a primeira vez.”

Nenhum comentário: