sexta-feira, 28 de novembro de 2008

AMIGO OCULTO.

Fui ator. Engraçado isso. Parece uma outra vida que eu tive.
Trabalhei com pessoas geniais, pessoas estúpidas, pessoas esforçadas, inteligentes, arrogantes, amorosas, sem o menor talento, com a maior elegância, funcionários, de direita, nuas, gostosas, sujos, brilhantes, bonitas, mal amadas, socialistas, Hamlet's, Medéias, anônimos na sua maioria...

1994. Larguei tudo e mudei o rumo, o prumo.
Foi difícil constatar que eu era medíocre, um atorzinho bonitinho quase sem brilho.
Mantive poucos amigos, talvez pela minha falta de habilidade, uma certa timidez talvez... Não sei.
Cada vez mais ficava distante de meus antigos colegas... Um fantasma na sala sem interação... Eu sabendo menos deles e eles muito menos de mim.
Para alguns ficou um carinho inexplicável, para outros uma amizade silenciosa.
Renata Jesion atriz, cheia de qualidades, luz incrível. Cuidadosa, com domínio sobre a carreira, com convicção nas ações. Criadora e realizadora.
Sim somos amigos, mas eu fantasma... Sei pouco dela... Ela sabe pouco de mim. E ao mesmo tempo somos muito íntimos... vai entender... Não é uma queixa, somos assim desde 1994. Sou assim um admirador, um amigo oculto. Presente... Mas oculto.

Ontem à noite, vi estrear seu novo projeto. Inovador único. Projeto virtual, tocante vibrante. “Teatro para alguém”. Sendo simplista, um teatro virtual dentro de um site, porém vai além... Só vendo www.teatroparaalguem.com.br.
Pessoas ótimas envolvidas. Texto, conceito, elenco... E uma casa linda onde mora, aberta para todos... Para alguém...

Sempre odiei esta expressão, mas... Merda! Muita merda queridos amigos...

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Na cabeça de Delmir.



- e aí cara, quanto tempo?
-...

Nada me respondeu. Delmir simplesmente olhou para mim balbuciou alguma coisa que não entendi. Estava muito mais atento às pessoas que estavam com ele. Eram guardadores de carro que me abordaram assim que estacionei ao lado da padaria. Delmir estava com eles, ou não, não sei. Mas que porra que o Delmir estava fazendo com os flanelinhas?
Insisti.
- quanto tempo hein?
-... É.
Pensei. Merda, será que foi a porra do martelo?

Delmir, seu nome é Delmir, que já era bastante diferente dos nossos nomes de classe média. Nomes que eram moda na década de 70: Fabio, Paulinho, Beto, André, Marcelo, Ricardo, Rafael, Frederico, Daniel. Talvez fosse uma homenagem a algum avô, tio, pai, sei lá.
Mas além do nome, ele era completamente destoante de nós. Era o mais inteligente, o mais esperto, humor ligeiro, ácido e doce ao mesmo tempo. Não era bonito, não era esportista, não tinha meninas atrás dele, era um tipo reservado, acanhado. Pela maioria das pessoas era tido como um perdedor, o cara que ninguém queria perto. Seus gostos sempre foram insultantes, sua atitude desafiadora. Para nós, um pequeno grupo de adolescentes com aspirações revolucionárias de bairro classe média, tinha nele, uma admiração de conduta, era tudo o que nem sonhávamos, poder ser. Era avesso, oblíquo.

Bebemos, fumamos, sorrimos e choramos, algumas várias vezes. Éramos um grupo de cinco adolescentes. Sabíamos pouco das coisas, pouco de nós mesmo, e muito menos de Delmir.
Não sei se morava com o pai ou padrasto, vi seus irmãos algumas vezes, sua casa nunca tinha certeza se era a 173 casa branca com portão baixo, ou se era 176 casa amarela de muro alto. Não era mistério, nem displicência nossa, simplesmente não importava.
Sabíamos de uma certa dificuldade de relacionamento que ele tinha com a sua família. O pai ou padrasto, cara difícil, sisudo, violento, castrador. A mãe, omissa, desajeitada, ignorante, sorridente. Sua irmã? Não sei, só sei que tem uma irmã e um irmão.

O tempo e a vida seguiram. Crescemos, namoramos, trabalhamos. De repente não éramos mais próximos, não nos víamos mais, não nos falávamos mais, não éramos mais o que um dia fomos.
O mundo para mim já era outra coisa, quando começou um boato sobre Delmir. Numa discussão familiar, seu pai ou padrasto, bêbado teria dado algumas marteladas em sua cabeça e o expulsado de casa.
Marteladas? Martelo, aquela ferramenta para pregar, esmagar? Na cabeça de Delmir? Não acredito. Bairrozinho de merda, fofoqueiros...

Mais de uma década sem ver Delmir. Paro o carro para comprar pão antes de visitar minha mãe. Lá está Delmir. Roupas sujas, cabelo longo sem corte, andar com dificuldade, sem sorrir, sem falar direito.

- Caralho Delmir, você não está me reconhecendo?
Desviou o olhar dos seus amigos guardadores de carros, e os fixou em mim.
- Tô... Mas não importa.
Saiu. Realmente sem se importar...

Às vezes o vejo andando pela rua, dando voltas intermináveis no quarteirão, muitas vezes com a mesma roupa de vários dias...

Daquela vida, daquele tempo... Nada mais importa...

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

KENZO, PERFUME E LUZ....

Já são velhos este filmes... Mas não estou aqui para mostrar novidades...


terça-feira, 18 de novembro de 2008

Uma foto e um lago. Uma infância.

Uma imagem recorrente na minha cabeça.
Eu, com seis anos. Vestido com roupas leves para se fazer uma prova de corrida na rua, com um número pendurado no peito. Boiando num lago de águas calmas. Mexo meus braços e observo o sol. Tem música. Longe, longe, suave.
Esta idade, esta roupa e este lago nunca existiram na mesma época. Misturei tudo numa espécie de síntese de um instante de infância.
As roupas? Mal lembro o evento. Me recordo por fotos. Era uma corrida de rua de poucos quilômetros, voltada para crianças e adolescentes. Eu devia ter aproximadamente uns dez anos. Camiseta regata bege, shorts vermelho. Tudo isso esta na foto da largada. Minha mãe fotografou instantes antes de eu me aventurar e disputar com outras crianças. É simples, eu sorrio quase tímido, quase esnobe. Abro meus braços numa pose quase vitoriosa.
Não venci e nem perdi, cheguei.

Eu tinha uma expectativa muito grande em fazer seis anos, pois havia uma promessa da turma do meu irmão mais velho, que eu seria admitido pelo grupo das pessoas mais legais do mundo (da minha rua) assim que fizesse seis anos. Pois é, nem preciso dizer que não fui aceito no clubinho. Mas não deixou de ser significativa aquela data... A festa, o bolo, os presentes eram quase pequenos perante aquela “maturidade” que estava alcançando...

Dois anos depois, meus pais, levaram todas as crianças da rua a um lindo parque. Estavam os caras mais legais do mundo, e eu. E um lago. Pensei: demorou para eu fazer seis anos!

Por que misturei tudo? Não sei... Momentos de superação e crescimento... Talvez... Analítico demais. Vai entender cabeça de criança...

MACACOS E MULHERES...

MONGA.
UM INSTANTE NEURASTÊNICO DE UMA MULHER E SEU MACACO INTERIOR.




Estou escrevendo sob encomenda uma versão meio “monga begins”...
Este título é provisório,porém me gusta...

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Recomendo... porém,cuidado.




“A palavra escrita, é literalmente, um vírus, uma forma maligna e letal.
A crença de que algumas palavras e combinações de palavras podem produzir doenças e perturbações mentais graves é partilhada não apenas no campo da magia mas também no campo da psicolingüística e da pragmática. O efeito chamado perlocutivo é o efeito somático provocado pela proferição (elocução) da palavra que tem uma força (ilocucionária) particular”.

José Augusto Mourão, prefácio à edição portuguesa de Eletronic revolution, de Willian Burroughs.

...(ou seja, a citação da citação!)

...Estou entre eles...


...Ah! a continuidade...